segunda-feira, 26 de abril de 2010

Mano no “país das maravilhas”: a adolescência pela vida...


Encarar um mundo novo, com novas regras, ordens e responsabilidades. Simultaneamente ter mais autonomia e capacidade de expressão. Muito resumidamente, seria mais ou menos assim deparar-se com a adolescência, logo após a pré-adolescência. No último sábado, estive em dois outros “mundos”:

“O mundo 1”: De manhã cedo, fui aprender a manusear a “Plataforma Latex”. É Latex mesmo! Até o “Santo Google” confundiu com a Plataforma Lattes (mais conhecida como o Orkut científico). O tal do Latex visa possibilitar escritos sem erros de diagramação, citação, formatação, etc, etc, etc... Passei a manhã inteira sendo apresentado a esse novo universo tecnológico. É curiosa a reação ao novo; surge a saudade do que é confortável e seguro. Saudade do bom e velho Word, que mesmo com suas chatices de diagramações, já me são familiares. Ah, tenho que destacar: do BrOffice não senti saudades não! Acho que mudaria para o tal do Latex mesmo se só houvesse BrOffice na vida para formatar textos! Lembrei agora de uma professora de curso de Inglês que me dizia que os estudantes crianças dela queriam voltar a ser bebês...e me lembro de um grupo de adolescentes que me afirmaram que tinham medo de serem adultos e preferiam as despreocupações da adolescência... Talvez o que nos exija mais cause essa reação inicial de busca de retrocesso...

“O mundo 2”: Pois bem, voltando para o sábado: no turno da tarde fui para a a aula do instrumento “caixa de guerra”. As mãos que pela manhã masueavam um teclado de computador, à tarde tentavam entrar no ritmo do samba por meio das baquetas que se apressavam. É muito interessante aprender algo novo, que anteriormente nem se percebia existir. Aparentemente simples, mas cheia de nuances e sutilezas, a caixa de guerra, apesar no nome que remete a nada pacífico, tem que ser tratada com jeito e calma, para expressar o som que se aguarda dela. O ambiente ensurdecedor, a necessidade de entrar no ritmo, estar em harmonia com o grupo, a dedicação, a disciplina e a concentração... tudo isso junto. Simultaneamente!

Na fase adulta, permanecemos deparando-nos com mundos e situações novas, algo que parece mais intensificado na adolescência. Por isso que o subtítulo do livro “Aprendiz do desejo: a adolescência pela vida afora” (autoria de Francisco Daudt da Veiga) poderia ser incorporado ao título do filme “As melhores coisas do mundo”. As experiências da adolescência nos marcam para o resto da vida. Situações de descobertas, de intensidades, de um mundo novo e cheio de possibilidades que se abre para nós. O filme faz-nos adentrar na história de vida do protagonista (Mano). O mundo parece tão cheio de coisas novas a serem vistas, aprendidas e conquistadas... carece-se de um espaço para ser ouvido, percebido, entendido...

Duas formas de expressão me chamam atenção no filme: o diário da adolescente que registra as ideias e sentimentos dela (o olhar para si e o percerber-se) e o blog das fofocas escolares da outra (o olhar para os outros e especular, “vender”, alardear)... movimentos que podemos observar nos nossos dias. É duro e difícil voltar-se a si. Mais interessante perder-se nas vidas dos “famosos” (ainda que efêmeros, ainda que uma fama que viole o próprio famoso)... A “fama” que julga agressivamente e exclui a jovem flagrada em fotos...

Também podemos perceber, no filme, o desinteresse pelo conteúdo ministrado em sala de aula (na cena do prof. substituto) - não perceber a aplicação do estudo na vida pessoal e futura vida profissional. Passamos por aprendizagens do que fazem sentidos para nós?? No programa televisivo“Profissão Repórter”, acho que semana passada, estavam acompanhando jovens que iam realizar o vestibular. Fiquei apreensivo só de ver aquelas cenas e recordar das expectativas dessa fase; carregar na mente o peso da memorização de fórmulas de química, física e matemática que jamais serão relembradas na vida. É uma carga intensa de situações nessa fase da vida, bem ilustradas pelo protagonista Mano, que agrega muito mais do que a protagonista Alice (com as três dimensões, ingressos mais caros, salas lotadas e filas imensas). O “Alice no País das Maravilhas” original remete-se à ideia de adentrar o desconhecido e poder descobrir-se, expressar-se. Em 2010, nas salas de cinemas brasileiros, um filme nacional dá conta desse recado de um modo bem mais interessante e sem (tantos) estereótipos.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

"Tempo, tempo, mano velho"


"Tempo, tempo mano velho, falta um tanto ainda eu sei
Pra você correr macio"
(Sobre o tempo - Pato Fu)


Hoje, com um sentimento de tempo corrido, repleto de atividades a serem feitas, veio-me a vontade de escrever livremente. E assim (re)nasce este blog, em um momento meio perdido, no meio de um tempo corrido. Sempre possibilitando as escritas dos outros, lendo e comentando os blogs dos outros, mas não reservando um tempo para as minhas escritas. Quer dizer, escritas científicas, materiais para publicar em eventos nunca deixaram de acontecer. Mas aquela escrita descompromissada, reflexiva ou até de um desabafo? Pois é, vim aqui até blog para isso. Sem pretensões, sem objetivos maiores; apenas a vontade de expressar publicamente ideias, opiniões e reflexões (ainda não me conformei com a palavra idéia sem acento).

Aqui, diante da tela em branco, percebo que não tem jeito, fico logo pensando em categorias e possivelmente em teorias...e eis que me pego pensando sobre o tempo de envelhecer (que causa medo e surpresa). Não abordarei teorias, mas situações. Em experiências recentes, conversei com uma jovem amiga, de 20 e pouquíssimos anos, que afirmava ter muito medo de envelhecer e dos traços físicos do envelhecimento. Lembro também de outra bela jovem amiga, com 30 e poucos anos, mas com aparência de 20 e poucos, que admira a velhice; a imagem respeitosa e as experiências de vida registradas nas rugas (parece meio absurdo em uma sociedade que cultua o corpo, confesso). Pontos de vista totalmente distintos . Lembrando delas, recordo também de outra senhora, com alguns muitos anos de vida, que vi ontem em um shopping. Mais uma vez ela cantava músicas antigas em um Karaokê. Uma cena um tanto quanto surreal; em pleno "templo do consumo", no qual se cultua a jovialidade, as aparência, etc etc etc, uma senhora magra, baixinha, muito simpática e bem arrumada, chega até o microfone de um brinquedo de shopping e canta várias músicas antigas. O passado sendo retomado e jogado ali, publicamente, aos ouvidos de todos. Minha curiosidade leva-me a dialogar com ela, que me revela estar ali diariamente. Tem um filho tenor e parece-me que ir àquele local, expressar-se através da música, ainda que aparentemente de modo solitário, faz-lhe bem.


A velhice, a proximidade da finitude, do fim da vida... como lidar com isso? Certamente causam-nos incertezas, dúvidas, medos... Chega-me à memória o personagem Carl Fredricksen, do filme "Up: altas aventuras"; senhor de 70 e muitos anos, desgostoso da vida, remoído em recordações do passado, apegado a lembranças, em uma vida com sentidos semi-perdidos. O garotinho gordinho possibilita a ele (re)viver momentos bons. Vou querer ser um velhinho assim, que não perde o encanto com a vida, nem as possibilidades de "altas aventuras". Por falar nesse filme, lembro das lágrimas de uma estagiária de 20 e poucos anos ao rever as cenas do filme lá na empresa. Parecia eu. Pensava que fosse o único a chorar tanto com as cenas dessa animação (ela chorou tanto, ou até mais que eu!). Parece-me que vivemos em um mundo que nos convida à anestesia (não sentir, não se sensibilizar), por conta lá do tal do tempo corrido que iniciei esse texto. Mas anestesia é assunto para outro texto...


Depois de lembrar-me desses fatos e cenas, o próximo passo foi buscar algo teórico para ler (tinha que ser!), aí encontrei um material de pesquisadores espanhóis, que abordam os conceitos de "tempo de trabalho" e "tempo de não-trabalho". Eles chegam à conclusão que executivos passam a maior parte do tempo trabalhando. E pelo jeito, os não executivos também. Pois bem, as obrigações aqui me chamam. Em outro momento (outro tempo), volto aqui para registrar alguma outra reflexão, em um tempo de não-trabalho!?

Para os interessados em textos científicos, o material dos pesquisadores:
http://www.fumec.br/revistas/index.php/facesp/article/viewFile/407/222