Encarar um mundo novo, com novas regras, ordens e responsabilidades. Simultaneamente ter mais autonomia e capacidade de expressão. Muito resumidamente, seria mais ou menos assim deparar-se com a adolescência, logo após a pré-adolescência. No último sábado, estive em dois outros “mundos”:
“O mundo 1”: De manhã cedo, fui aprender a manusear a “Plataforma Latex”. É Latex mesmo! Até o “Santo Google” confundiu com a Plataforma Lattes (mais conhecida como o Orkut científico). O tal do Latex visa possibilitar escritos sem erros de diagramação, citação, formatação, etc, etc, etc... Passei a manhã inteira sendo apresentado a esse novo universo tecnológico. É curiosa a reação ao novo; surge a saudade do que é confortável e seguro. Saudade do bom e velho Word, que mesmo com suas chatices de diagramações, já me são familiares. Ah, tenho que destacar: do BrOffice não senti saudades não! Acho que mudaria para o tal do Latex mesmo se só houvesse BrOffice na vida para formatar textos! Lembrei agora de uma professora de curso de Inglês que me dizia que os estudantes crianças dela queriam voltar a ser bebês...e me lembro de um grupo de adolescentes que me afirmaram que tinham medo de serem adultos e preferiam as despreocupações da adolescência... Talvez o que nos exija mais cause essa reação inicial de busca de retrocesso...
“O mundo 2”: Pois bem, voltando para o sábado: no turno da tarde fui para a a aula do instrumento “caixa de guerra”. As mãos que pela manhã masueavam um teclado de computador, à tarde tentavam entrar no ritmo do samba por meio das baquetas que se apressavam. É muito interessante aprender algo novo, que anteriormente nem se percebia existir. Aparentemente simples, mas cheia de nuances e sutilezas, a caixa de guerra, apesar no nome que remete a nada pacífico, tem que ser tratada com jeito e calma, para expressar o som que se aguarda dela. O ambiente ensurdecedor, a necessidade de entrar no ritmo, estar em harmonia com o grupo, a dedicação, a disciplina e a concentração... tudo isso junto. Simultaneamente!
Na fase adulta, permanecemos deparando-nos com mundos e situações novas, algo que parece mais intensificado na adolescência. Por isso que o subtítulo do livro “Aprendiz do desejo: a adolescência pela vida afora” (autoria de Francisco Daudt da Veiga) poderia ser incorporado ao título do filme “As melhores coisas do mundo”. As experiências da adolescência nos marcam para o resto da vida. Situações de descobertas, de intensidades, de um mundo novo e cheio de possibilidades que se abre para nós. O filme faz-nos adentrar na história de vida do protagonista (Mano). O mundo parece tão cheio de coisas novas a serem vistas, aprendidas e conquistadas... carece-se de um espaço para ser ouvido, percebido, entendido...
Duas formas de expressão me chamam atenção no filme: o diário da adolescente que registra as ideias e sentimentos dela (o olhar para si e o percerber-se) e o blog das fofocas escolares da outra (o olhar para os outros e especular, “vender”, alardear)... movimentos que podemos observar nos nossos dias. É duro e difícil voltar-se a si. Mais interessante perder-se nas vidas dos “famosos” (ainda que efêmeros, ainda que uma fama que viole o próprio famoso)... A “fama” que julga agressivamente e exclui a jovem flagrada em fotos...
Também podemos perceber, no filme, o desinteresse pelo conteúdo ministrado em sala de aula (na cena do prof. substituto) - não perceber a aplicação do estudo na vida pessoal e futura vida profissional. Passamos por aprendizagens do que fazem sentidos para nós?? No programa televisivo“Profissão Repórter”, acho que semana passada, estavam acompanhando jovens que iam realizar o vestibular. Fiquei apreensivo só de ver aquelas cenas e recordar das expectativas dessa fase; carregar na mente o peso da memorização de fórmulas de química, física e matemática que jamais serão relembradas na vida. É uma carga intensa de situações nessa fase da vida, bem ilustradas pelo protagonista Mano, que agrega muito mais do que a protagonista Alice (com as três dimensões, ingressos mais caros, salas lotadas e filas imensas). O “Alice no País das Maravilhas” original remete-se à ideia de adentrar o desconhecido e poder descobrir-se, expressar-se. Em 2010, nas salas de cinemas brasileiros, um filme nacional dá conta desse recado de um modo bem mais interessante e sem (tantos) estereótipos.