segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Cisne branco e/ou negro!?


Quando me percebo na sala de cinema sem as costas totalmente encostadas na poltrona, é o sinal mais forte que o filme me sequestrou. Isso ocorreu ao ver “Cisne Negro”, que certamente está bem distante da busca de entretenimento fácil em uma tarde de domingo. Somos conduzidos sutilmente aos pesadelos e fragilidades da protagonista, que vive os extremos das ambiguidades: ser a doce e dócil filha, a bailarina bem-sucedida, submeter-se ao rigor e disciplina da empreitada que lutou arduamente para estar; mas simultaneamente ela tem que passar a ser agressiva, decidida, livrar-se de incertezas e amarras. A esse transmutar-se ambíguo no qual a personagem tem que ser simultaneamente “cisne branco” e “cisne negro” que somos levados a acompanhar.

Acordar-se no meio da noite, subitamente, por conta de um pesadelo é uma experiência nada agradável. Sermos levados à experiência semelhante em uma sala de cinema é o mais próximo que consigo descrever dessa recente ida ao cinema; mas não o medo clássico e fácil dos filmes de terror e sim as situações cotidianas que abafavam e aprisionam a jovem bailarina, que chegam até nós nas confortáveis cadeiras, de modo a querer (e conseguir) nos envolver.

O corpo da protagonista movimenta-se de forma contínua, voluntária e disciplinada nos ensaios e espetáculo de balé. Esse mesmo corpo é conduzido, sacudido, acariciado, tocado e mexido de tal forma por quem a rodeia, que a boneca de porcelana não resiste por muito tempo, e como um frágil objeto racha-se ao meio.