
"Tempo, tempo mano velho, falta um tanto ainda eu sei
Pra você correr macio"
(Sobre o tempo - Pato Fu)
Hoje, com um sentimento de tempo corrido, repleto de atividades a serem feitas, veio-me a vontade de escrever livremente. E assim (re)nasce este blog, em um momento meio perdido, no meio de um tempo corrido. Sempre possibilitando as escritas dos outros, lendo e comentando os blogs dos outros, mas não reservando um tempo para as minhas escritas. Quer dizer, escritas científicas, materiais para publicar em eventos nunca deixaram de acontecer. Mas aquela escrita descompromissada, reflexiva ou até de um desabafo? Pois é, vim aqui até blog para isso. Sem pretensões, sem objetivos maiores; apenas a vontade de expressar publicamente ideias, opiniões e reflexões (ainda não me conformei com a palavra idéia sem acento).
Aqui, diante da tela em branco, percebo que não tem jeito, fico logo pensando em categorias e possivelmente em teorias...e eis que me pego pensando sobre o tempo de envelhecer (que causa medo e surpresa). Não abordarei teorias, mas situações. Em experiências recentes, conversei com uma jovem amiga, de 20 e pouquíssimos anos, que afirmava ter muito medo de envelhecer e dos traços físicos do envelhecimento. Lembro também de outra bela jovem amiga, com 30 e poucos anos, mas com aparência de 20 e poucos, que admira a velhice; a imagem respeitosa e as experiências de vida registradas nas rugas (parece meio absurdo em uma sociedade que cultua o corpo, confesso). Pontos de vista totalmente distintos . Lembrando delas, recordo também de outra senhora, com alguns muitos anos de vida, que vi ontem em um shopping. Mais uma vez ela cantava músicas antigas em um Karaokê. Uma cena um tanto quanto surreal; em pleno "templo do consumo", no qual se cultua a jovialidade, as aparência, etc etc etc, uma senhora magra, baixinha, muito simpática e bem arrumada, chega até o microfone de um brinquedo de shopping e canta várias músicas antigas. O passado sendo retomado e jogado ali, publicamente, aos ouvidos de todos. Minha curiosidade leva-me a dialogar com ela, que me revela estar ali diariamente. Tem um filho tenor e parece-me que ir àquele local, expressar-se através da música, ainda que aparentemente de modo solitário, faz-lhe bem.
A velhice, a proximidade da finitude, do fim da vida... como lidar com isso? Certamente causam-nos incertezas, dúvidas, medos... Chega-me à memória o personagem Carl Fredricksen, do filme "Up: altas aventuras"; senhor de 70 e muitos anos, desgostoso da vida, remoído em recordações do passado, apegado a lembranças, em uma vida com sentidos semi-perdidos. O garotinho gordinho possibilita a ele (re)viver momentos bons. Vou querer ser um velhinho assim, que não perde o encanto com a vida, nem as possibilidades de "altas aventuras". Por falar nesse filme, lembro das lágrimas de uma estagiária de 20 e poucos anos ao rever as cenas do filme lá na empresa. Parecia eu. Pensava que fosse o único a chorar tanto com as cenas dessa animação (ela chorou tanto, ou até mais que eu!). Parece-me que vivemos em um mundo que nos convida à anestesia (não sentir, não se sensibilizar), por conta lá do tal do tempo corrido que iniciei esse texto. Mas anestesia é assunto para outro texto...
Depois de lembrar-me desses fatos e cenas, o próximo passo foi buscar algo teórico para ler (tinha que ser!), aí encontrei um material de pesquisadores espanhóis, que abordam os conceitos de "tempo de trabalho" e "tempo de não-trabalho". Eles chegam à conclusão que executivos passam a maior parte do tempo trabalhando. E pelo jeito, os não executivos também. Pois bem, as obrigações aqui me chamam. Em outro momento (outro tempo), volto aqui para registrar alguma outra reflexão, em um tempo de não-trabalho!?
Para os interessados em textos científicos, o material dos pesquisadores:
http://www.fumec.br/revistas/index.php/facesp/article/viewFile/407/222
9 comentários:
Seja bem vindo a blogosfera. Gostei bastante do texto. bem reflexivo. Parabéns.
Márcio, adorei a reflexão. Lembrei de um dia conversando com dois amigos, um falou que a ciencia tende à algo meio star wars, onde as pessoas não vão mais envelhecer e o sonho dele era estar vivo para essa Era, a minha amiga falou que isso seria um absurdo, porque o sentido da morte se perderia e ai como seria uma vida, sem morte.
E sim, o nosso tempo apressado... Lendo o texto, vieram várias reflexões minhas a respeito desse tempo que não vivemos, só corremos para acompanha-lo... E nos perdemos nessa correria, e o que me causa mais horror é que estamos o tempo inteiro procurando algo que mate,apresse o nosso tempo. Como se quisessemos estar sempre à frente, no amanhã, e o amanhã nunca chega... E nós não vivemos, e aí quando olharmos no espelhos, estaremos cheios de rugas, sem saber como elas chegaram se não vivemos o suficiente...
ish, to viajando já...
Bom, gostei muito do blog, espero demais que você poste mais vezes.
beijo. Raisa
Márcio,
adorei o texto!
curioso é que ainda hoje comentei com minha filha que sempre fui "velha", nunca na verdade curti coisas que seriam consideradas atuais pra minha idade; sempre preferi samba de raiz, chorinho, poesia, tango, silêncio, tomar vinho e ouvir boa música, palestras, jogos de tabuleiros,sarau, essas coisas todas que parecem distante do tempo dela. E claro que entendo da necessidade de conhecer o novo pra me inteirar, pra partilhar e aprender também. Quanto aos sinais do tempo, aqueles que aparecem por mais que a gente tente esconder(rs), esses me dão um imenso prazer em tê-los, e pra ser honesta e nem um pouco modesta, me acho até mais bonita, mais elegante, mais orgulhosa do que sou hoje. Ainda não me acostumei como a maioria dos mortais com a idéia de finitude, isso assusta!
Me sinto feliz pela oportunidade de ler teus textos!
um abraço
Márcio,sou sua fã e o Texto me fez cair na real e vê que não sou a única a ter tanto medo do envelhecimento algumas amigas riem quando fico dizendo que tenho apenas 25 anos e que não quero sair desta idade, enquanto tenho 37é tão dificil vê o quanto o tempo passa depressa, sou tão elétrica, tão facinada pela vida,gosto de praia, dançar é tão ruim ficar com medo de esta fora de seu tempo,mas mesmo enfrentando as diversas opiniões eu vivo. Elisangela (uva)
Márcio, adorei seu texto! Seja bem vindo ao mundo dos blogs! Bom, esse texto é a minha cara, você bem sabe. Assemelha-se muito ao contexto em que vivo; dos meus medos e assombros que a velhice pode trazer. Enfim, pegando a palavra do nosso amigo Wolney.. 'é bem reflexivo'.
Adorei!
É tanto blog..heheheh
Legal márcio.!
Bjs
olha só... eu sempre tive esse MEDO DA VELHICE... as vezes olho o espelho e fico tentando imaginar como serei fisicamente mais velha? porque por dentro sei que continuarei doidinha doidinha sempre!
Xerinho pra tu. Adorei
olá márcio! gosto do teu lugar e das coisas que escreves.
seja bem vindo!
beijinhos.
Excelente reflexão!! Antes eu ficava apavorada só em falar nessa coisa de tempo... de ter que envelhecer um dia...mas com o passar do tempo, estou descobrindo que o bom mesmo é viver a vida com intensidade... e tão somente viver a vida... E o tempo, ah o tempo pode ser nosso forte aliado e nosso melhor amigo também!!
Bjo no coração. Dina
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