sexta-feira, 25 de junho de 2010

Quase psicólogos, quase jornalistas, quase advogados (???)


Estive pensando que eu poderia afirmar que:

Sou um (quase) economista – pois controlo minhas economias e meu dinheiro e estive um dia desses em uma palestra sobre finanças pessoais; digo agora às pessoas o que fazer com o dinheiro delas;

Ou sou um (quase) médico – pois me auto-medico e indico medicações aos outros;

Ou sou um (quase) contador – pois desenrolo a declaração do imposto de renda quase sozinho;

Ou sou um (quase) jornalista – gosto de escrever, entrevistar pessoas, tenho até um blog!;

Ou sou um (quase) marketeiro – pois aprendi a mexer no Corel, sei fazer pôsteres, folders;

Ou sou um (quase) enfermeiro – sei prestar auxílio de primeiro socorros;

Ou sou um (quase) advogado – porque reivindico meus direitos e prezo pela ética e honestidade.

Então recordo que nunca usei essas expressões de “quase” ser uma outra profissão que não seja a que me formei. Fiquei então curioso para entender porque quase todos os dias ouço “quase” psicólogos afirmarem com muita “propriedade” acerca de questões psicológicas. Inicialmente fui ao Google e encontrei 4.090 vezes a expressão “quase psicóloga” e 193 repetições para as palavras “quase psicólogo”. Um número bem maior de quase psicólogas espalhadas por aí. Dentre as frases encontradas, existem as que se referem a pessoas que estão quase se formando e as de indivíduos que escrevem textos como os que seguem abaixo:

“Falo como quase psicólogo. Boa parte das pessoas que sofrem com condutas desviantes e transtornos e perverssões sexuais têm histórico de abuso sexual na infância. E me perdoem os mais liberais, mas há indícios de que boa parte dos homens que se tornam homossexuais também tenham sofrido abusos quando crianças”


Fonte: http://www.clubedosbrutos.com/2008/12/06/he-man-no-combate-a-pedofilia

“Um quase economista. Ex estudante de cinema. Futuro psicólogo. Cozinheiro visionário da filosofia. Não, não... Um quase psicólogo. Ex estudante de economia. Futuro cineasta. Filósofo visionário da culinária... Ou melhor... Um cineasta frustrado. Quiçá um psicólogo”

Fonte: http://doismaridos.wordpress.com/author/juliocastro

“Esse tipo de postura é típico de Roseli, uma quase psicóloga, formada em jornalismo, que se apaixonou pelo design de revistas. Na Abril há 18 anos, passou pelas edições regionais de Veja antes de chegar a EXAME, onde fez carreira até assumir, há pouco mais de dois anos, o cargo de diretora de arte”

Fonte: http://portalexame.abril.com.br/revista/exame/edicoes/0947/cartaaoleitor/tradicao-renovacao-482569.htm

Defendo que iniciativas inter e transdisciplinares são louváveis, mas sem perder a identidade ou descaracterizar uma profissão específica; que exige estudo, dedicação, rigor, conhecimentos e práticas profissionais muito específicas. Que tal deixarmos de cometer essas gafes?

3 comentários:

Sandra disse...

O acesso fácil e a necessidade de estar informado sobre "quase" tudo, está nos condicionando a se contentar com apenas com ele ("o quase"), e não com o SER de fato; e pra mim, a questão mais preocupante é como as pessoas aceitam esse tipo de informação como sendo verdadeiras, desde que seja conveniente ao que pensa e como vivem. Sou uma leitora de internet também, embora meu filtro esteja sempre ligado pra que toda essa sujeira não contamine minha forma de pensar. Outro dia tive que ouvir de alguém que estava no meio do primeiro semestre de um curso importantíssimo, que "não iria falar como minha amiga, mas como profissional"; daí se vê a ímportancia de cada dia mais e mais as universidades se preocuparem também em deixar claro o que é um profissional,da responsabilidade do que se fala e se escreve por aí como sendo verdades absolutas.

Lorena Portela disse...

onde é que eu assino?

otimo texto!

hehehe

Samara Sousa disse...

otimo texto, bastante interessante... de fato as pessoas se colocam num termo quase, por se conformarem com pouco ou apenas não crer no seu potencial!